NA TRILHA DOS VAGALUMES – EUGENIA SERENO
24 de janeiro de 2019Estando em Jambeiro desfrutando a hospitalidade do Beto recebo de presente de sua maravilhosa esposa Mariângela um livro, Mistérios do Vale, de autoria de Sônia Gabriel. Relata em linguagem simples, lendas, folclores, e mistérios, praticamente um para cada um dos municípios de nossa região, Alto e Médio Paraíba paulistas. Achei-o bem escrito porém, para mim, pouco interessante, por já conhecer grande parte das histórias. Na verdade, critiquei-o um pouco, por “fixar” certos “mistérios” a determinada localidade ou município quando, na verdade, eram histórias pertencentes à ampla geografia.
Mas sou muito grato à Mariângela, e claro à autora, por uma dica, até então de meu completo desconhecimento. Sempre, e em tudo, se aprende algo. Desta feita um nome: Eugênia Sereno, mencionada em relação à São Bento do Sapucaí. Nas poucas linhas referentes à esta autora sambentina (outro vocábulo, onomástico, que desconhecia) senti fluir um mistério, algo poderoso.
Fui pesquisar. Acabei adquirindo na estante virtual a obra, única, desta autora: “O Pássaro da Escuridão”, por acaso uma terceira edição que, aprendi depois, teve 5 edições, uma diferente da outra numa elaboração e aperfeiçoamento intermináveis. Junto, “Os Deuses Governam o Mundo” de Mário Graciotti, marido de Benedicta Rezende Graciotti, nome de batismo de Eugênia Sereno, médico, escritor e um dos fundadores do Clube do Livro, que editou inúmeras obras relevantes de autores nacionais e estrangeiros e incentivou a leitura a preços razoáveis em nosso país. Coisa das décadas de 50/60 do século passado; lançou a público, por exemplo, obras de Willy Aurelli, jornalista, caçador e explorador de nossos rincões à época mais bravios. Esplendor Selvagem foi uma das primeiras obras que dele tomei conhecimento, pelo Clube do Livro; e foi quem descobriu a escritora, radicada em Ubatuba, Idalina Graça, a “solitária de Iperoig”. Desgostei-me com o Clube quando tomei conhecimento de que expurgava certos textos quando, a critério de alguém, acreditava que tais textos poderiam ferir a moral, os bons costumes, da família brasileira.
Outro escrito que adquiri nesta exploratória sobre Eugênia Sereno foi, e que li primeiro, “Eugênia Sereno: A Menina dos Vagalumes (resgate folclórico do Paraíba ao Sapucaí)” de autoria de Rita Elisa Seda e Sônia Gabriel. Uma biografia, pobre e muito rica. Pobre, pois de dados biográficos, no que diz respeito à vida e fatos e acontecimentos que se referem à Eugênia Sereno traz muito pouco: poderiam ser grafados em apenas uma das 300 páginas que compõe o volume. Rica, pois, na falta, creio, de dados biográficos palpáveis, as autoras enveredaram por uma profunda pesquisa de sua personalidade, de sua psicologia, contidas em sua obra única, ganhadora, na época, de um Jabuti. Devem tê-la lida centenas de vezes, em cada uma das edições. O resultado foi um livro denso, não muito fácil de leitura, pesado, porém acenando fascinação e mistério, no conteúdo e na forma do que creio ser Pássaro da Escuridão. Estou com medo de iniciar sua leitura, mas sinto que será fundamental.